quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O TEATRO ANTES DE SER JÁ ERA...

O nosso teatro é um acontecimento no bairro. Um acontecimento significa qualquer coisa que irrompe nas rotinas do bairro, na paisagem do largo, na circulação dos vizinhos e no seu campo de visão, nas conversas dos homens à porta do café ou das mulheres junto ao balcão da mercearia. O nosso teatro começa ant

es de começar, porque começa quando, aos poucos, as meninas e os meninos, os pais e as avós chegam ao nosso ponto de encontro; o teatro começa antes de nós chegarmos. Quando nós chegamos ao largo somos saudados pelos seus olhares, chamam-nos para as suas conversas, entram em confidências, queixam-se da semana, soltam uma asneira, os miúdos param de correr para espreitar o nosso saco e o que ele promete. O teatro já começou antes de começar, quando uma mulher à janela, debruça-se ainda mais para tentar perceber o que é aquele magote de gente ali em baixo e a vizinha do la

do esclarece-a, mas fica desconfiada que não deve ser bem assim. A peça já começou, porque as suas falas são estas, as que já circulam antes de começarmos, os problemas que vão surgir no palco já foram tratados antes na paragem do autocarro, porque o cenário praticamente já está montado, só esperamos que não chova. Neste teatro quem vem de fora já vem tarde, já devia ter chegado. Porque quem vem de fora é que vem aprender. Quem vem de fora, tem a sensação de estar na cena errada, mas não deve perguntar, ofendido, então começaram sem mim? Claro que começaram, nunca deixaram de rep

resentar! Neste teatro, neste amplo palco cheio de problemas e contradições, neste largo largo, representam-se todos os dias pequenos e gra

ndes dramas, curtas histórias, sofridos monólogos e violentos diálogos. Existe outro teatro assim, que antes de ser já era?...

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